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Estupro Culposo

Saias curtas, decotes insinuantes, maquiagens marcantes. Somos todas culpadas por adornarmos nosso eu em doses homeopáticas de estimulantes masculinos, em ternos versos de poesias mascarados em ritmos atenuantes da virilidade alheia. Somos culpadas e isso é fato.

A culpa que nos acompanha é precedida de todos os aplausos que herdamos das nossas matrizes, em gerações anteriores que preconizavam o pudor em detrimento do prazer feminino, sempre tão atrelado ao gozo etéreo e vazio dos que dominavam nossas emoções e desejos.

Somos culpadas por exprimir em nuances generosas nosso gemido oculto, que enseja sair em busca de sensações primitivas, sempre que eles se distraem; que experimentam amostras de poder quando galopamos certeiras em seus corpos quentes e másculos. Somos culpadas por entregar promessas de sexo puto ao declararmos nossas intenções promíscuas com os poucos centímetros das peças que revestem nosso corpo esculpido pelo pecado.

Somos todas nós, mulheres, as causadoras das dores do mundo, em todas as vezes em que ousamos, em todas as vezes em que agimos, e em todas as vezes em que mostramos um pouco da delícia que temos nos arredores do nosso molde feminino, que é cheio de bossa, de maciez e de cores.

Somos culpadas por todas as agressões que sofremos, pelo não que sai de nossa boca, que devia ser ocultado do nosso vocabulário, pois é obsceno quando pronunciado aos que decidem usar um pouco de nós, mesmo quando nossa vontade não está presente na festa em que somos forçadas a frequentar.

E se somos estupradas, somos obrigadas a calar-nos na escuridão da nossa dor, onde habita um ser diabólico, pronto para acabar com tudo que é visceral e rápido, assim como o coito de um ato, que deve durar o mesmo tempo de uma sentença machista, proferida em um tribunal igualmente profano e criminoso.

Fui! (Lutar…)

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